terça-feira, abril 27, 2010

O Centenário de Adoniran Barbosa




























....................................CENTENARIO DE ADONIRAN BARBOSA ...............................
João Rubinato, seu nome, nasceu na cidade de Valinhos em 6 de agosto de 1910. Entrega-se ao mundo da música. Busca conquistar seu espaço como cantor – tem boa voz, poderia tentar os diversos programas de calouros. Percebeu que "com esse nome ele não ia a lugar então pegou emprestado emprestado a um companheiro de boêmia e de Luiz Barbosa, o nome Adoniram de Luiz Barbosa, cantor de sambas, que admirava, juntou o Adoniran com Barbosa, e com ele ficou ate a morte em 23 de novembro de 1982.
Os Demonios da Garoa na plataforma da estação de Jaçanã. Eles cantavam a música Trem das Onze, que eternizou tanto o autor omo o conjunto a partir do ano de 1965. Foto cedida por Marco Dantas

Na bilheteria da estação, outra vez os Demonios. Pela placa acima da bilheteria, os trens já haviam deixado de circular. Ano já no ano de 1965.
...............................O trem deixando a estação de Jaçanã em 1964. Foto cedida por Marcello Tálamo.........................

Texto do site da Revista Época

No centenário de nosso maior sambista, “Trem das Onze” ainda ecoa por estações que não existem mais, por estúdios de gravação empoeirados e, principalmente, na memória afetiva da cidade que o sambista tantas vezes cantou
por Camilo Vannuchi -


SAUDOSA ESTAÇÃO.


Adoniran na extinta plataforma do Jaçanã, em foto de 1965, um ano após a primeira gravação de “Trem das Onze”Caixinha de fósforos nas mãos, Adoniran aproveitava a viagem para compor. Os versos surgiam entre uma estação e outra, ritmados pela cadência do vagão. Especialista em criar tipos urbanos, o artista, nascido em Valinhos em 6 de agosto de 1910, tirava samba dos trilhos. E traduzia, na nova música, a história de um rapaz que tinha de deixar a namorada sozinha para voltar para casa e cuidar de sua mãe. “Se eu perder esse trem, que sai agora às 11 horas, só amanhã de manhã.” Um dos bairros atravessados pela ferrovia acabou entrando na letra por acaso. Era preciso encontrar uma rima. “Manhã... manhã... Jaçanã! Achei bonito o nome”, confessou Adoniran em uma entrevista de 1974, dez anos depois do lançamento da canção que é a cara de São Paulo. Adoniran barbosa faria 100 anos em agosto.


E ficaria todo prosa ao saber que “Trem das Onze” ainda ocupa lugar de destaque na predileção dos paulistanos. Toda terça-feira, uma centena de pessoas vai ao Bar Brahma assistir aos Demônios da Garoa, que sempre encerram o show com seu samba mais famoso. Sentado em uma das mesas, Adoniran abriria um sorriso, pediria um cigarro “emprestado” (para fumar na calçada, é claro), ajeitaria a gravata-borboleta e, no repique da inseparável caixinha de fósforos, cantaria com a plateia. Em tempos de Beyoncé e “Rebolation”, ele descobriria que seus versos continuam reverenciados como um hino. Seis anos atrás, por exemplo, os 450 anos de São Paulo inspiraram uma campanha da TV Globo para eleger a música “com a cara da cidade”.

O povo escolheu “Trem das Onze”, uma senhora de 40 anos que, até então, já tinha sido gravada em francês, espanhol, italiano e hebraico. A canção surgiu em setembro de 1964, gravada pelos Demônios da Garoa em LP e em compacto simples (com “Chum Chim Chum”, de Heitor Carillo, no lado B). Fazia 13 anos que o grupo lançava músicas de Adoniran, então uma espécie de Chico Anysio do rádio, intérprete de personagens populares como o malandro Charutinho em programas humorísticos. Um desses programas, o Histórias das Malocas, era líder de audiência nas noites de sexta-feira.

Desde 1955, com o sucesso de “Saudosa Maloca”, o grupo se tornara intérprete oficial desse paulista de Valinhos, nascido João Rubinato.
O toque de Midas teria sido a iniciativa dos Demônios de transformar tábua em “táuba” e exagerar os erros de português – que logo virariam rubricas de Adoniran. Até aquele momento, o compositor ainda não havia adotado o estilo “narfabeto”. “Foi ideia dos Demônios”, afirma Roberto Barbosa, o Canhotinho, que aos 70 anos ainda toca cavaquinho no quinteto. “Estragaram minha música”, Adoniran teria dito, mudando de opinião após a consagração da faixa e incorporando coisas como “nóis fumos” e “despois” nos sambas seguintes. “Foi um casamento que deu certo”, diz Canhotinho. “Os Demônios não estariam na ativa até hoje sem as músicas de Adoniran, e ele não teria vingado como compositor se não tivesse sido gravado pelo conjunto.” No período de nove anos compreendido entre “Saudosa Maloca” e “Trem das Onze”, os Demônios gravaram 14 composições dele, como “Iracema” e “As Mariposas”. “Por mais de vinte anos, foi com os Demônios que a gente conheceu Adoniran”, diz Assis Ângelo, biógrafo do grupo. Apenas em 1974 o compositor lançaria seu primeiro álbum como cantor. Na interpretação do quinteto, suas faixas eram tão bem-sucedidas que, em 1964, o diretor da gravadora Chantecler fez uma única exigência ao fechar contrato. “Quero relançar as coisas do Adoniran”, disse Braz Baccarin, hoje com 79 anos. “E preciso de uma música inédita.” Arnaldo Rosa (morto em 2000), então líder dos Demônios, lembrou-se de um samba que Adoniran oferecera a ele dois anos antes, quando o grupo se preparava para viajar para o Uruguai e a Argentina. “A gente ensaiava no apartamento do Toninho (violonista, morto em 2005), e os compositores vinham nos mostrar repertório”, diz o pandeirista Cláudio Rosa, 77 anos, irmão do líder Arnaldo Rosa.

Adoniran, que não tocava nenhum instrumento, apenas cantava, delegando aos músicos a função de criar a harmonia e o arranjo. As introduções repletas de “quais quais quais” eram obra dos Demônios, como o “pascalingudum” de “Trem das Onze”. “Não gostei daquela letra”, afirma Narciso, 75 anos, também violonista do conjunto. “Eu tinha sido uma criança rebelde, apanhava da mãe, e achei muito fraca essa história de ir para casa porque a ‘véia’ está esperando.” Mas os colegas acreditaram no samba, e, pela primeira vez, Adoniran ficaria conhecido nacionalmente.

Adoniran como diz o 'Samba do Arnesto'

............................................Ernesto Varella. o "Arnesto"...............................................

por: Luís Souza -
'Arnesto' nos convidou: ele não mora mais no Brás
Está certo que nós é que o procuramos, mas uma vez feito o contato, o “Arnesto” nos convidou. Ele não mora mais no Brás, e sim na vizinha Mooca. Nós fomos e ele estava lá. Conversamos então com Ernesto Paulella, 95 anos, o amigo de Adoniran Barbosa que inspirou o célebre “Samba do Arnesto”, de 1955. Ele garante que a história contada na música – um convite para um samba em um local onde não havia ninguém – foi pura invenção e mostra orgulhoso uma das primeiras partituras do “Samba do Arnesto”, ofertada e autografada pelo autor.

Como o senhor conheceu o Adoniran?
Eu sempre gostei de música e tocava violão nas rádios para ganhar uns trocados. Em 1938, uma amiga em comum me apresentou ao Adoniran.
Aí a gente passou a se cruzar nas emissoras e sempre conversava um pouco, às vezes comia junto.

O senhor já morou no Brás?
Quando conheci o Adoniran, morava no Brás, mas nos anos 40 me mudei para a Mooca. Mas os dois bairros ficam muito perto, é só atravessar um viaduto. Como surgiu a música?
Logo depois de me conhecer, o Adoniran me pediu um cartão. Ele leu e falou: “Teu nome é Arnesto”. Fiquei meio constrangido, e respondi que era Ernesto. Ele disse que não, que era Arnesto mesmo e que esse nome dava samba. Veja bem, isso foi em 1938, e ele me prometeu que ia fazer a música, até perguntou se eu duvidava. Eu disse que naquela altura não duvidava de nada. Bom, ele fez a música, mas demorou 17 anos. E qual foi a sua reação?
Eu estava em casa com a minha mulher quando anunciaram no rádio o “Samba do Arnesto”. Na hora, eu falei pra ela:"Essa peteca é minha”.

Ela perguntou: “Que peteca?”. E eu contei a história. Depois encontrei o Adoniran ao acaso e ele quis saber se eu tinha gostado.

Eu respondi brincando: “Você me entortou. Agora todo mundo vai me pertubar com isso”. Então a história da música nunca aconteceu?
Não, nunca dei mancada com ele, não coloquei aviso na porta nem nada.

O Adoniran uma vez me disse: “Tive de inventar a mancada, porque sem a mancada não tinha a música”. Ele também me chamava de compadre dele porque batizei uma de suas filhas.
No centenário de nosso maior sambista, “Trem das Onze” ainda ecoa por estações que não existem mais, por estúdios de gravação empoeirados e, principalmente, na memória afetiva da cidade que o sambista tantas vezes cantou


TOCAR NA BANDA.



No final dos anos 1960, Adoniran estava tão perto dos Demônios que muitos o consideravam o sexto integrante. Seu primeiro LP como cantor seria lançado na década seguinte


Adoniran Barbosa: a história de "Trem das Onze"
No centenário de nosso maior sambista, “Trem das Onze” ainda ecoa por estações que não existem mais, por estúdios de gravação empoeirados e, principalmente, na memória afetiva da cidade que o sambista tantas vezes cantou
por Camilo Vannuchi -
“FRECHADA”

Para fechar contrato com os Demônios da Garoa, o diretor da Chantecler decidiu regravar os maiores sucessos de Adoniran e exigiu um samba inédito do compositor. O conjunto mostrou “Trem das Onze”, que estava guardada na gaveta havia dois anos. A música virou título de um compacto simples (no alto) e de um LP, lançados simultaneamente em setembro de 1964TÚMULO DO SAMBA? Se o filho único da música precisava se apressar para não perder a condução, Adoniran e os Demônios tiveram de aguardar quatro meses por uma repercussão positiva. No mesmo ano em que Brigitte Bardot passou o verão em Búzios e um golpe militar sacudiu o país, crítica e público só tinham ouvidos para “É Proibido Fumar”, de Roberto Carlos, e “A Hard Day’s Night”, o rock que batizou o primeiro filme dos Beatles, lançado no Brasil como Os Reis do Iê, Iê, Iê. Os ventos começariam a mudar com uma ajuda do Chacrinha. Entre janeiro e fevereiro de 1965, os Demônios se apresentaram quase toda semana em seu programa de auditório, exibido pela TV Rio. O estranhamento diante de um samba cantado em “paulistanês”, com muitos “erres” e poucos “esses”, deu lugar à empatia. “Os cariocas adotaram ‘Trem das Onze’”, diz Canhotinho. Segundo ele, os foliões que iam ao Bola Preta, clube que promovia os mais famosos bailes de Carnaval do Rio de Janeiro, deram de cantarolar o samba nos intervalos. “Os músicos da orquestra notaram e o incorporaram ao repertório”, afirma. “Trem das Onze” recebeu o título de música mais executada no Carnaval, justamente no ano do quarto centenário do Rio de Janeiro. “Foi uma bela resposta a quem dizia que São Paulo era o túmulo do samba”, diz Celso de Campos Jr., biógrafo de Adoniran, referindo-se à gafe de Vinicius de Moraes. Os paulistas ficaram orgulhosos. “Minha tia ligou para contar”, diz Maria Helena, 73 anos, filha de Adoniran criada pelos tios e que morava em Londres. Só o pai parecia não se importar com o feito. “Prefiro minha parte em dinheiro”, ele dizia. Como prêmio, recebeu 2 milhões de cruzeiros do governador Carlos Lacerda. Com o equivalente hoje a R$ 8,5 mil, reformou a casa, em Cidade Ademar, na Zona Sul – a mesma que havia comprado com o “tutu” de “Saudosa Maloca”. A novidade foi recebida como a redenção do samba paulista, expressão combatida por Adoniran. “Samba é igual em todo lugar”, ele dizia. O musicólogo Zuza Homem de Mello atribui a diferença às interpretações: “Os paulistas tocavam de um jeito marchado, mais duro que os cariocas”. Zuza diz que o genial em Adoniran era sua capacidade de rir de si mesmo. “Seus personagens perdem a casa em ‘Saudosa Maloca’, dão com a cara na porta no ‘Samba do Arnesto’ e têm de deixar a namorada para não perder o trem.” Curiosamente, o trem que inspirou Adoniran deixou de circular também em 1965, engolido pelo “pogréssio” da cidade e pela onda desenvolvimentista lançada no início da década pelo prefeito Prestes Maia. As pontes do Piqueri e Cruzeiro do Sul começaram a ser construídas. Na Zona Norte, o traçado da ferrovia dava lugar a grandes eixos viários – entre eles a Rua Benjamim Pereira, cuja obra levou, em junho de 1966, à demolição da já famosa estação do Jaçanã. Seis linhas de ônibus foram criadas para atender o bairro. E a nova passagem custava o dobro do bilhete do trenzinho.

“POGRÉSSIO”




Doze anos após a linha da Cantareira ser desativada, Adoniran visita as obras da Estação Sé do metrô dias antes da inauguração, em fevereiro de 1978Adoniran Barbosa: a história de "Trem das Onze"
No centenário de nosso maior sambista, “Trem das Onze” ainda ecoa por estações que não existem mais, por estúdios de gravação empoeirados e, principalmente, na memória afetiva da cidade que o sambista tantas vezes cantou


PIQUENIQUE NA SERRA
Por - Camilo Vanuchi


O Trem da Cantareira foi o principal meio de transporte da Zona Norte na primeira metade do século XX. Partia da Estação Tamanduateí, na Rua João Teodoro, cruzava o Rio Tietê ao lado do Campo de Marte e subia em direção à serra. Um segundo ramal foi inaugurado em seguida, cruzando o Jaçanã antes de chegar a Guarulhos. “A ferrovia foi instalada no final do século XIX para levar operários e materiais de construção à Cantareira, onde um reservatório de água começava a ser implementado”, conta Ralph Giesbrecht, 58 anos, autor do site www.estacoesferroviárias.com.br. Naquela época, o crescimento de São Paulo levou o governo a criar um sistema de distribuição que poupasse a população do trabalho de instalar poços artesianos ou recorrer às poucas fontes disponíveis. Nos anos 1920, a linha já era usada para transporte de passageiros. “Nos fins de semana, famílias pegavam o trem para fazer piqueniques na serra”, diz o maquinista aposentado Antônio de Castro, de 82 anos. “Durante a semana, servia para trazer trabalhadores à ‘cidade’.” Os comboios eram puxados por marias-fumaças movidas a lenha. Vagarosa, a máquina levava até 40 minutos para cruzar os dez quilômetros que separavam o Centro do Jaçanã. Até que a queima da madeira das locomotivas fosse trocada por óleo diesel (no final da década de 1950), a fornalha seguia seu trajeto soltando fagulhas nos passageiros. “A gente chegava ao serviço com furinhos na camisa, e em poucos meses a roupa parecia uma peneira”, diz Sylvio Bittencourt, que nos anos 1950 trabalhava numa metalúrgica na Rua Aurora, no Centro. “A turma reconhecia quem usava o trenzinho por conta da roupa queimada e muitas vezes gritava na rua: ‘Ô, Cantareira!’, como se dissesse ‘Ô, suburbano!’” Hoje, aos 79 anos, Sylvio mantém um pequeno museu dedicado à memória do Jaçanã. Adoniran nunca morou no bairro, mas pegava o trem na Rua João Teodoro para apresentar seus personagens em circos de periferia. Alguns ficavam no Jaçanã, que Adoniran conheceu nos anos 1950, quando atuou em filmes da Companhia Cinematográfica Maristela, como Mulher de Verdade (1954) e Carnaval em Lá Maior (1955). A menção feita em “Trem das Onze” aconteceu mesmo por acaso, apenas para rimar com “de manhã”. O horário do título também é alvo de especulação. O último trem partia da Estação Tamanduateí às 21h, o que comprovaria a tese de que jamais houve um “trem das onze”. No entanto, descoberta recente do pesquisador Werner Vana, 65 anos, estudioso do transporte ferroviário, traz uma nova versão. “Aos domingos, o último trem deixava Vila Mazzei às 22h59”, afirma, com base em um anuário sobre a cidade, o Guia Levy, de 1958. Então o filho único deixava a namorada na Vila Mazzei? “É possível. Ali havia bares e padarias, enquanto o Jaçanã só tinha mato”, diz Vana. Nem o sucesso do samba evitou a aposentadoria do trem, velho e deficitário. O ramal que chegava à Cantareira orientou o projeto da linha azul do metrô, nos anos 1970. Mas o ramal de Guarulhos, que poderia ligar o Centro a Cumbica, foi desativado. Hoje, nada denuncia que existiu uma plataforma no Jaçanã. Os trilhos foram arrancados ou cobertos pelo asfalto e apenas o antigo paralelepípedo foi mantido ao redor da Praça Comandante Alberto de Sousa. Nela, uma banca de jornal ostenta a única pista de que um vagão passou por ali, carregando um sambista irreverente e sua caixinha de fósforos. “Banca Trem das Onze”, indica o letreiro.










































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