domingo, julho 31, 2011

Getulio Vargas

GETULIO VARGAS

...............Campanha presidencial de 1950, Anhangabau São Paulo, Getulio atraia multidões




...............................................................Aquele 24 de Agosto.................................................................

Estávamos no ano de 1954, eu com 15 anos estudava na escola SENAI Roberto Simonsen do Brás. Aquele ano estava muito conturbado com a política efervescente com Carlos Lacerda querendo a todo custo tirar Getulio Vargas do poder. Até então tudo corria bem, Getulio governava inaugurava obras.
Ai ele aparece inaugurando o instituto Butantan na cidade de São Paulo. Como sempre acompanhado pela sua filha Alzira Vargas.


A confusão politica começou no início de agosto de 1954, o chefe da guarda pessoal de Getúlio Vargas, Gregório Fortunato, por iniciativa própria ou a mando de algum político getulista, contratou capangas para assassinarem o principal líder da oposição, o deputado e jornalista Carlos Lacerda, um dos maiores responsáveis pelas críticas que eram feitas ao presidente.

Só que os tiros que seriam endereçados a Carlos Lacerda atingiu o peito do major da Aeronáutica, Rubens Vaz, o crime aconteceu na Rua Toneleiro 181 endereço do jornalista Carlos Lacerda, que após uma palestra numa universidade foi acompanhado pelo major da Aeronáutica, que o acompanhou justamente em caso de uma atentado contra o jornalista, e o tiro que era endereçado a Lacerda foi de encontro ao major da Aeronáutica. Aquele tiro contra o major “foi uma punhalada nas costas do presidente Getulio”, acusado pela UDN como mandante do crime
Filho de getulistas estava o par de tudo o que vinha acontecendo através da leitura de jornais e ouvinte assíduo de radio. No caminho da escola passando pela Praça da Sé, eu ia lendo todas as manchetes de jornais colocados nas bancas e dava uma desfolhada nas paginas mesmo com a cara feia dos jornaleiros.

No sábado dia 21 de agosto daquele ano estava sendo inaugurado o Parque do Ibirapuera, já com atraso devido às obras lentas. Estávamos adentrando o parque pelo portão nove, Rua Republica do Líbano (naquele tempo ainda AV. Indianópolis) eu, com minha mãe, meus irmãos, Teresa e José, minha tia Deolinda, e a prima Luizinha, já caminhando a beira do lago, quando uma jovem estudante com uma prancheta na mão veio até minha mãe pedindo para ela assinar a renuncia de Getulio Vargas.

Dona Orlinda getulista até o calcanhar mandou ela a p q p, e ameaçou agredi-la, não fosse à interferência de Deolinda minha tia. Mas a moça não passou sem uma bronca: Quem é você sua filha daquele para falar em tirar Getulio do poder. Aquele dia ficou até hoje na minha mente. Outro dia que também ficou, foi o dia 24, três dias depois daquela desfeita da moça contra minha mãe.
A coisa no palácio do Catete estava cada vês mais complicada, e a crise política ia ficando insustentável com Getulio se defendendo como podia da acusação de ter mandado matar o major Rubens Vaz. Eu acompanhava pelo radio e torcia para acabar tudo bem, pois Getulio já tinha sido deposto em 1945, e seria uma desmoralização ser deposto novamente.


No SENAI todo mundo sabia que eu era Getulista e um polemico politiqueiro, daqueles que discutia sabendo o que estava falando, e como bom taurino falando alto. Naquele dia 24 o professor da oficina veio até eu e disse: Mário, o Getulio suicidou-se. Minha indignação foi tanta que retruquei: O que o senhor disse professor? O Getulio se matou a coisa de 15 minutos, olha pela janela a fabrica do Matarazzo já está com a bandeira brasileira a meio pau. Em poucas horas os jornais estavam com edições extra.

Quando deu, nove horas que era à hora do café, o diretor da escola senhor Paes de Almeida, ligou o microfone do teatro que era a continuação do refeitório e anunciou que a aula estava suspensa naquele dia devido ao infausto acontecimento. Todos já sabiam do que tinha acontecido no Rio de Janeiro onde ficava a sede do governo. Em vês de tristeza viram-se fisionomias alegres por não ter aula aquele dia, e também foi anunciado que no dia seguinte dia do enterro não haveria aula também. Reunidos no refeitório o diretor disse para todos ir direto para casa, pois poderia haver distúrbio, de Getulistas fanáticos.
Foi a mesma coisa que dizer. Vão e façam muita farra: Aquele dia 24 de agosto de 1954 era uma terça feira já ensolarada às nove horas da manhã, os estavam bondes cheios quando deveria ser calmaria nos coletivos se ouvia uma gritaria com alguém dizendo vivo o Getulio que nos proporcionou um dia de folga. O radio divulgava boletins de meia em meia hora com noticias do Rio de Janeiro com o congresso em confusão onde o nome do jornalista Carlos Lacerda sendo dito como o culpado do triste acontecimento. Quando voltamos às aulas o Waldomiro estava triste por voltar ao “batente” e dizia com ar de tristeza: “Puxa, bem que o Getulio podia se matar de novo!”
O revolver usado pelo presidente, para o tresloucado gesto.

O mês de agosto estava fadado a ser o mês do desgosto, porque um ano depois, coisas tristes ainda aconteciam. Minha mãe me mandou ir à hora do almoço levar meu irmão na Rua Martins Fontes para ele tirar carteira de menor, e depois levá-lo no Clemente Ferreira na Rua da Consolação para tirar chapa do pulmão. Ele trabalhava na Casa da Bóia Rua Florêncio de Abreu, enquanto ele não saia para a hora do almoço eu estava num banco da Praça da Sé, com meio filão de pão com mortadela e um guaraná, mandando goela abaixo. A meu lado uma banca de jornal com o exemplar do jornal A HORA, mostrando a manchete com o que tinha acontecido no dia anterior. Morreu Carmen Miranda, era o dia 6 de Agosto de 1955.
Dias depois outra manchete estava nas primeiras paginas dos jornais. Café Filho, deixa o governo, saiu licenciado por “motivo de doença”, assumindo a presidência da Republica o presidente da câmara deputado Carlos Luz, que ficou apenas dois dias, pois um golpe estava sendo articulado entre ele, Carlos Lacerda e a turma da UDN (União Democrática Nacional) que foi descoberto pelo general Teixeira Lott. Pronto outra noticia que ia mexer com a vida de todos nos na escola. Novamente passando pela Praça da Sé as manchetes mostravam Presos todos da Republica do galeão. O golpe estava montado, e foi desmontado pelo general Teixeira Lott. Daí pra frente o presidente do Senado Nereu Ramos assumiu o poder até a posse de Juscelino Kubitschek que já tinha sido eleito um mês antes.
Nas duas horas de almoço quando funcionava o serviço de alto falantes que tocava musica e dava noticias das atividades da escola e, noticias advinda do radio ou jornais eram transmitidas nas duas horas de almoço e lazer dos alunos da escola naquele horário. O prefixo musical da programação diária era Paris Belfort. A situação política estava ficando cada vês mais feia e a cada noticia a ser dada vinha com aquele prefixo musical.
O golpe já estava fechado, quando o general Lott resolveu dar um fim na coisa, e outro dia de confusão também na escola, agora era a hora do café da tarde, quando novamente o diretor Paes de Almeida dispensou os alunos recomendando que todos fossem para casa sem parar no caminho. Foi a mesma coisa que dizer fique a vontade. Quando o bonde apinhado de alunos nos bancos e, nos estribos abarrotados de gente deu uma parada no Parque Don Pedro II, aconteceu à desobediência por parte dos alunos. Naquele local tinha um quartel do exercito com os praças fazendo trincheiras. Pronto: Aguçou a curiosidade de todos e o bonde ficou quase vazio. Os praçinhas cavavam o solo gramado fazendo uma valeta formando um circulo. Na verdade uma verdadeira burrice, pois se sabia que nada de mais aconteceria, e estavam estragando um lindo gramado onde a gente jogava bola, feita de crina e algodão na oficina de tapeçaria da escola. O jogo era sempre na hora do almoço ou às quatro horas da tarde onde o jogo só acabava quando estava escurecendo ou quando ela, a bola caia no Rio Tamanduateí.
Os anos 1950 deixaram muita saudade, outros iguais nunca mais.
A Carta Testamento
"Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente e se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam e não me dão direito de defesa. (...) Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais posso vos dar a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. (...) Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História."

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