segunda-feira, abril 25, 2011

O Bixiga de todos

Autor: Mario Lopomo







Em 23 de junho de 1878, o jornal Província de São Paulo anunciava na sua primeira página: "Vendo por propostas todas as matas dos terrenos do bexiga pertencentes a


A. J. L. Braga e Companhia". Estava dada a largada para o nascimento do bairro mais emblemático da capital: o Bixiga.


Nessa época a capital já experimentava o crescimento com a chegada dos imigrantes; os italianos que não toparam a aventura ingrata de colher café no interior se interessaram pelos terrenos e aproveitaram os preços baixos - para lá, se mudaram em bando.


Por coincidência, a área era rodeada de Ruas estreitas com 60 palmos de largura e aclives lembrando bem as pequenas aldeias da Itália.


A maioria dos estabelecidos eram italianos calabreses, que logo perceberam na nascente metrópole a falta de mão-de-obra especializada.


La foram eles: sapateiros, artesãos, padeiros, quitandeiros - e tudo mais que um simples meio de sustento. A partir de 1890, o bairro experimentou uma nova onda de crescimento com chegada de mais imigrantes: portugueses, espanhóis e mais e mais italianos. Isso sem contar os negros recém libertados.


No início era uma imensa torre de Babel onde ninguém entendia ninguém, mas acabaram se acostumando uns com os outros e a coexistência foi pacífica. Os primeiros registros referentes ao Bixiga são de 1559, e dão conta de uma grande fazenda chamada Sítio do Capão, cujo dono era o português Antônio Pinto (capão é uma porção de mato isolado no meio do campo). Décadas mais tarde o local passou a se chamar Chácara das Jabuticabeiras, devido ao grande número de frutas existente nas imediações.


Já na segunda década do século 18, o local pertencia a Antônio Bexiga.


Ao que parece o proprietário fora vítima da varíola - bexiga era o nome popular da doença e os enfermos eram conhecidos como bexiguentos. Não foi todo mundo que gostou do Bixiga - é bom lembrar que o "e" da palavra Bixiga passou a "i" devido à boa fala popular. Em 1819, um viajante francês chamado Saint Hilaire, percorreu grande parte do Brasil, inclusive São Paulo, e depois publicou um livro a respeito.


Nele escreveu que a única estalagem da cidade era a de um português alcunhado de "Bexiga", e que era imunda - fora então pernoitar na chácara Água Branca, em Pinheiros. Para muitos o bixiga começa na Praça da Bandeira (que era conhecido no começo do século XX, como largo do Piques, devido às inundações, que dificultavam a passagem com o barro que se formava).


Quando você sobe o morro pela Rua Rocha esta lá em cima, e de lá, você tem uma bela vista da cidade, da Avenida Nove de Julho, da Rua Paim, da Praça 14 Bis, do Vale do Anhangabaú, e de outros rincões que sua vista alcança. Será que foi por isso que o Bixiga é chamado de Bela Vista? O bixiga dos Italianos.


A Bela Vista mais conhecido com o Bixiga, foi o local escolhido por uma grande parte da colônia italiana. E faz muito tempo, Isso desde imigração italiana em que eram acolhidos no Brás, os que não iam para a lavoura e ficavam na capital paulista tinham dois destinos permaneciam no Brás, ou iam para o Bixiga.


E para lá foram muitos sapateiros, marceneiros padeiros, e tapeceiros, artesões que conservavam o trabalho do artesanato de estilo europeu, que vingou por muitos anos aqui em São Paulo. Era um tempo de uma boa convivência entre os povos esportistas os italianos continuavam suas origens torcendo pelo Palestra Itália, depois Palmeiras, de ouvidos colados no radio depois do macarrão da Mama, acompanhado das porpetas e bracciolas. Depois do jogo com cadeiras na calçada, lá estavam às famílias de italianos e brasileiros e quem de outras nacionalidades estivessem, todos conversando animadamente, com o rádio ligado na Tupi ouvindo com som alto o programa festa na roça apresentado por Lulu Belencazzi um Oriundi.



O Bixiga dos negros



A comunidade negra era volumosa no bixiga. Era o contraponto dos italianos em termos de futebol, a maioria era corintiana. Quando jogava Palmeiras e Corinthians, era uma festa de vitrolas, cada uma tocando o hino de seus clubes. Era uma festa de xingamentos tudo na base da amizade. Tetsuno, pra cá e peidorreiros para lá.


Depois do jogo sempre tinha alguém de cabeça inchada, e naqueles anos 1950, o Corinthians levava sempre vantagem ficando o periquito anos na fila das derrotas. Mas com toda essa rixa futebolística a convivência entre italianos e brasileiros era boa.


A comunidade negra tinha como a maior bandeira do Bixiga o cordão do Vai Vai, que ao final dos anos 1960, quando o carnaval foi oficializado, virou escola de samba e ganhou muitos títulos de carnavais. Escola de muitos amigos do peito, como a família Galvão.


Do senhor Pedro Galvão. De seus filhos, Getulio, Mario e Pedro (Bombeirinho). De Tobias, e muitos outros.No Bixiga, dois clubes de futebol eram bastante respeitados na várzea paulistana.



O Boca Juniors, que tinha como jogador o cantor Agostinho dos Santos, e por causa de uma cisão nasceu o Aristocrata Clube. Um clube somente magnífico clube somente de negros e com uma estrutura de fazer inveja. Era um clube que mostrava o desenvolvimento da raça negra. Vários doutores entre eles juises, desembargadores e advogados, estavam sempre onde o clube ia jogar. Gente alegre e educada.


Onde a batucada era o refrão que fazia todos gingar. Tornou-se um clube tão bem administrado que não demorou muito adquiriram um belo clube de campo em Parelheiros, eu mesmo testemunhei quando o clube de veteranos que eu acompanhava foi lá jogar.


Dava gosto ir até o Aristocrata éramos recebidos por gente muito educada. Mais uma vês recordo as vezes que ia lá quando garoto e jovem. Subindo a Rua Rocha ainda de terra com barro ou poeira chegando La em cima se tinha uma bela vista da cidade, da Avenida Nove de Julho. E de outros rincões que sua vista alcança. Será que foi por isso que o Bixiga é chamado de bela vista?Seja lá como for o Bixiga é um bairro que todos conhecem se não lá tiveram, pelo menos de ouvir falar, através do cinema ou da televisão, o Bixiga sempre esteve à vista de todos, graças a uma boa mídia que lhe foi dado. O bixiga sempre teve seus divulgadores, divulgadores.



Era lá que Amacio Mazzaropi gostava de fazer seus filmes. A carrocinha, o Corintiano, por exemplo, foram rodados lá, os filmes mostravam ruelas e cortiços que o era uma coisa muito no inicio da década de 1950.









Adoniram Barbosa também enalteceu o Bixiga com a musica “samba do Bixiga”. Foi lá que nasceu o Cantor Agostinho dos Santos. Mais precisamente na Rua Santo Antonio. Onde viveu até sua morte ocorrida a 11 de julho de 1973, devido a um acidente de avião nas proximidades do aeroporto de Orly, em Paris (França).


Agostinho gostava de jogar futebol. Não jogava tão bem quanto cantava. Mas mesmo assim envergou as camisas do Boca Juniors e Aristocrata Clube.



.........................................................................................Armandinho do Bixiga




Mas quem mais amou e divulgou o Bixiga foi Armando Puglisi. (O Armandinho do bixiga). Que muito cedo nos deixou.


Armandinho amava o Bixiga como ninguém, ele foi o pioneiro do que hoje se chamam agentes culturais. O Bairro que nasceu como não podia deixar de ser, no mais significativo dos bairros culturais de São Paulo: o Bixiga.


Descendente de italianos Armandinho nasceu com ajuda de parteira em 1931, em uma casa na Rua dos Ingleses. Cresceu, brincou, estudou, trabalhou, fez amigos, casou, sambou, e agitou, o bairro como poucos para não dizer o único, sempre amando o bairro do Bixiga. Criou o Museu do Bixiga, criou também o museu do óculos que tinha seu local na Rua dos Ingleses, reunindo peças do cotidiano da vida do bairro, e participou de todos os movimentos para elevar o nome do lugar, que nasceu e amou por toda sua vida, inclusive assíduo freqüentador do Bloco dos Esfarrapados, e da Vai-Vai. Armandinho foi o que inventou em fazer um bolo do tamanho do ano de aniversario da cidade de São Paulo.

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